quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

"My precious... Taxi??"


Sempre que viajo para fora do país, 
a melhor forma de me deslocar para locais 
que não faço a mínima ideia onde sejam, é de taxi.
Algo comum para toda a gente.
Seja ele uma carroça puxada por cavalos (versão Nova York), 
seja numa Triquibike (versão Copenhaga),
seja num típico verde, branco ou Taxi amarelo.
Taxi é Taxi!
Já os taxistas... esses sim diferem bastante...
Há quem diga que são a imagem de marca do país!
Ou não...
Para quem conhece o típico 
Taxi-tuga-velho-ferrojento-careiro-conduzido-por-uma-alminha-mal-cheirosa-e-aldrabona... quer dizer... está pronta para tudo!
Pois... enganei-me!
Quando viajei para Oslo, conheci uma outra versão!
Oslo em si é uma cidade pequena, quase uma vila.
Típicamente nórdica. 
Onde tudo é limpinho, educado, arrumadinho, loirinho e 
MUITO CARO!
Na primeira noite fomos jantar a um restaurante típicamente norueguês, indicado pelo Hotel como sendo o Melhor da Cidade.
E trá-lá-lá, lá fomos nós todos contentes da vida.
O ambiente era glamouroso e requintado.
Sussurrava-se a ementa, a qual não entendíamos,
mas sorríamos satisfeitos por apreciar o pôr-do-sol ao longo das paredes de vidro.
O preço do bife era igual ao da lagosta!
O dos vinhos tinha três dígitos!
Mas nada iria estragar este fantástico jantar na terra dos Fjörds.
Nem que só houvesse Carpa! Tirava-se as espinhas e pronto!
(Odeio pobre! Humpf!)
Pedimos Lagosta!
Era a loucura!
E vinho Francês!
Meu Deus!!!
A conta foi directamente para o Visa 
e lembro-me de fazer o conhecido número de palhacinho 
"Olha ali um avião!!", 
mas não... o empregado de mesa nem pestanejou... humpf!
(verdade verdadinha é que o Visa não era o meu... Ufa!)
Olhei com ar de Calimero e obtive um "Pfff..." que me tranquilizou.
(felizmente ainda há cavalheiros!)
Como todas as cidades cosmopolitas, 
a vida nocturna convida a dar um saltinho ao Club da moda.
Já no terraço do Hotel, o ambiente acomodava-se.
O espaço era fantástico!
A festa começava aqui.
Pessoas bonitas e bem dispostas
(alcool... claro, não havia palhaços)
Mas a tão badalada Disco esperáva-nos 
e num salto apenas fomos para a rua em euforia.
Assim que virámos a esquina começou a chover.
Hmmm... ir a pé estava fora de questão!
Abrigámo-nos debaixo de um varandim 
e aguardámos que viesse um Taxi.
Ouviam-se risos e vozes de mulheres.
Três raparigas, negras como a noite, 
mini-saias e tops flurescentes abrigaram-se da chuva perto de nós.
E do nada, homens sequiosos apareciam um a um.
Parecia em poucos minutos a Bolsa de Valores de Hong Kong!
Disputava-se valores numa versão linguística imperceptível.
Afinal, estávamos à chuva numa esquina.
Um belo spot para a prostituição de Oslo!
Taxis nada!
De repente, do meio da chuva surge uma luz 
e o tão aguardado Taxi chega.
Assobiei, gritei e saltei para o meio da estrada.
Só queria fugir dali.
Entrámos de rompante 
sem nos apercebermos que falávamos em português, 
enquanto ainda nos ríamos da situação anterior.
Sacudi o cabelo, passei o gloss, 
mas lembrei-me que tinha de dizer a direcção ao taxista.
Ao meu lado já se fazia silêncio.
Ninguém respirava.
Embasbacados olhavam para mim sem pestanejar.
Pensei: "Ok, tenho de ser eu a perguntar ao senhor se fala Inglês."
Inclinei-me para a frente e disse: "Hello! Do you speak English?"
Do outro lado ouço:
"Hellooooo... yes..." e pareceu-me ver então o Smeagol em pessoa agarrado ao volante!
Juro!
O próprio Smeagol ou Gullum ou wathever do filme "O senhor dos aneis".
Um ser atarracado, meio careca, com uma cabecinha muito pequenina e orelhas proeminentes, olhos azuis gigantes e redondos e uns bracinhos de criança de 6 anos.
E a seguir ouço uma vozinha de desenho animado a proferir:
"Where do you want to go?"
Estremeci.
Gaguejei.
Engoli em seco e soletrei o nome da discoteca para onde queríamos ir.
E este pequenino Smeagol-taxista, sentadinho em duas almofadas põe um boné azul e sorri:
"It's not far from here, but we have to go arround because these streets are one way only."
Ainda pensámos saltar em andamento... mas não.
(Glup!)
Andámos às voltas pelo centro de Oslo, ora para cima, ora para baixo.
Passados 15 minutos chegámos ao destino (ou não...)
O Taxi parou e o pequeno Smeagol-taxista tirou o boné, olhou para trás e fez um sorriso de criança inocente:
"Here we are!" - disse numa vozinha de Rato Mickey.
Carregou no seu pequenino computador de bordo (qual Playmobil) e presenteou-nos com uma conta do tamanho de um comboio.
Ainda tentei agarrar as notas por um segundo, mas o pequeno e maléfico ser arrancou-mas da mão com um olhar reluzente.
Para colocar a cereja no topo do bolo, quando saímos do Taxi reparámos que estávamos apenas na terceira rua paralela à do Hotel!
Ok...
Até podíamos fazer queixa, mas que iríamos nós dizer??
"Óh Sr. Guarda, fomos roubados pelo SMEAGOL!!!"
Buááááááááááááááá......
(baseado em factos reais - 2008)

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

"As sandálias douradas"


Tic-Tac! Tic-Tac! Tic-Tac!
O relógio já acelerava os meus passos 
a caminho do aeroporto.
Heathrow é um caos!
Já o sabia...
"One luggage only, please!"
Milhares de pessoas de todos os tipos, cores e línguas, 
acotovelavam-se para chegar à porta de embarque.
Era a loucura na terra de Sua Majestade!
Chegando à seccurity zone não há cá "mas" nem meio "mas"
É tudo ao molho e despe a calçinha!
Ups...o casaquinho...
e tudo
para dentro do raio X!
Neste momento todas as pessoas à minha volta
tranformavam-se em pequenos seres maquiavélicos expressando sorrisinhos e
piscadelas de olho aos guardas presentes.
Agora era o vale tudo!
As personagens pareciam saídas de um autêntico filme de Hitchcock.
Tipo A:
Fofinho-inofensivo (versão: Shreck gato-das-botas)
Tipo B:
Cafeíno-dependente (versão: "Todos me perseguem! Sou uma vítima da sociedade!")
Tipo C: 
Maníaco-deprimente (versão: "Juro pela minha mãezinha que esta droga não é minha!")
Entre um extraterrestre e outro, 
venho eu,
menina loirinha "tru-li-lu" 
feliz e contente,
aos pulinhos pelo corredor da morte. 
Quando de repente...

Ding! Ding! Ding!O alarme disparou!
Eu sabia!
Ia presa!!!!!
BUUUUÁÁÁÁÁááááááá....

Ok... era o meu relógio...
Ufa...

De repente sinto os olhares desviarem-se na minha direcção!
Tcham Tcham Tcham Tcham!
(parecia ecoar então a música do filme "O Tubarão")
Os seguranças já eram três!
Cochichavam entre si e apontavam na minha direcção.
Uma delas tinha um lenço na cabeça
tipo Talibam!
Era agora!
Estava tramada!
Neste momento já imaginava um cerco de polícia britânica
em busca da espia russa Nikita!
Era o fim das minhas Avé-Marias e dos meus Pais-Nosso!
Se havia altura para me redimir dos meus pecados era agora...
(Mãezinhaaaaaa... já não sou virgem!)
Quando já me tinha descabelado toda e
me aprontava para lançar o típico boato de BOMBA! 
(seria perfeito aqui em Heathrow...) 
uma das seguranças aproximou-se de mim.
Era chegada a hora do APALPÃO!
(GLUP!)
"Excuse me Miss, my collegue has a weading next saturday and we were wondering where did you buy those beautiful gold sandals!"

HUMPF...
(baseado em factos reais - 2007)

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

"A Desbocada"


A vida no escritório tem um especial encanto.
Nomeadamente o facto de todos falarem da vida alheia.
Aqui, não é excepção.
Os apetites andavam vorazes e um pequenino boato tornava-se motivo de assembleia geral.
Especialmente desde que se espalhou um intrigante boato...
"A barriguinha proeminente da Sra. Directora!"
A loucura instalou-se na zona de fumo 
e chegou até à sala das fotocópias.
Era oficial!
Todos se coçavam, questionavam, faziam pinos e piruetas...
Perguntar-lhe...
tá quieto...


-"Vai lá tu, foste promovido"


-"Nem penses, tenho mulher e filhos!"


-"Vá lá, ela gosta tanto de ti..."


-"Tás doido?? No mínimo queimava-me com as beatas!!"


A cobardia apoderara-se do batalhão...
Ninguém se oferecia.
Todos se encolhiam.
Ok... eu explico.
A nossa Directora era uma pessoa muito especial 
(tinha um feitio de merda, pronto!)
e NADA nem NINGUÉM ousava questioná-la no que quer que fosse.
Muito menos numa mera questão pessoal.
O tempo foi passando...
A "barriguinha" continuava...
E toda a equipa já arrancava cabelos e ameaçava cortar os pulsos.


-"Quem é que vai lá afinal?"
(silêncio)


O problema mantinha-se...
A solução... nem vê-la....


-"Eu vou... pronto..."
(disse eu na esperança de ninguém me ouvir)


De repente tudo se iluminou!


-"Weeeeeeeeeeeeeeeeeee..."
(Fizeram uma onda em minha homenagem)


-"ÉS A MAIOR!!!!"
(louca... só pode)


-"A MALTA ESTÁ CONTIGO!!!"
(parecia uma formação de Cheerleaders)


E eu... ok...
O mal estava feito!
Enchi-me então de coragem,
respirei fundo
e caminhei de cabeça erguida para a guilhotina.
Naveguei por mares nunca dantes navegados, 
caminhei por vales e montanhas, matei Ogres e Dragões... 
Ok...caminhei entre o hall de entrada e o gabinete da direcção.
Benzi-me três vezes, despedi-me do meu cão em pensamento
e bati à porta.


Nock! Nock!


-"Entre!"


Todos se atropelaram para colar o ouvido à porta.


-"Olá Dra. Gisela, como está? Ai que bem que está hoje! Como vai o maridinho-o-cão-a-sogra-o-canário-e-essa-saudinha? 
(começou a saír-me tudo em velocidade cruzeiro)


GLUP! 
(engoli em seco e continuei...)

-"Errr... a Sra. Dra. está grávida, não está? 
(e esbocei o sorriso mais idiota de que alguma vez me lembro)


-"Hmmm... sabe... 
ando com uns problemas intestinais ultimamente..."
(Ooooops....)

(baseado em factos reais - 2002)