terça-feira, 15 de julho de 2008

" O lencinho de seda "


O Futebol é um dos verdadeiros amores dos Tugas.
Seja da 1ª divisão, da distrital ou da regional, todos gostam de torcer pela sua equipa ao vivo e a cores.
Pois... é por essas e por outras que me deixei convencer um dia...
O "Vitórria" ia jogar em casa!
Era a algazarra total!
Tudo se amontoava junto às bilheteiras do estádio.
Era o Zé do talho, a Gilda da mercearia, o Toni mecânico e Jeremias, o pescador.
Todos iam ver o jogo!
Nem que fosse ao encontrão!
A cidade Sadina transformou-se em pouco tempo numa verdadeira festa da sardinha!
Motociclos, Calhambeques, Carripanas e Zundapes Famel amontoavam-se pelas ruas em busca de um buraco para estacionar.
Tudo para ver o Sporting levar nas lonas!
(ou não...)
Eu não fui excepção...
compareci como adepta ferverosa que sou,
com uma pequena diferença...
torcia pelo Sporting... (claro)
Estacionei em cima do passeio ao lado do semáforo (típico) e coloquei o meu cachecol de lagarticha Sportinguista.
Ajeitei o cabelo e caminhei em direcção ao estádio, alegre e confiante.
Ao passar pela carrinha das bifanas os olhares debruçaram-se sobre mim.
Mmmmmm...
Olhei em redor,
nenhum Sportinguista...
Medo...
Esbocei então um sorriso amarelo, fiz boquinhas de loira parola (para os distraír) e corri para dentro do estádio.
Ufa...
A alegria no estádio era contagiante.
Tudo cantava, dançava e gritava.
Era a loucura!
Logo aos primeiros minutos o pior temeu-se...
O Vitória marca!
Bolas!!!
Das bancadas ouviu-se um barulho ensurdecedor.


"Vitórrrrrrrrrrrrrrrrrria! Vitórrrrrrrrrrrrrrrrrria!"


Parecia um ataque bombista seguido de um verdadeiro tremor de terra.
E eu... com o cachecolzinho do Sporting encolhida na multidão.
Só me apetecia gritar... Sporrrrrrting... Sporrrrrting... mas os meus leões tinham-se tranformado nuns pequenos gatos amestrados... humpf...


"Prrrrrrrrrrrrrriiiiiiiiiiiii!!!!"


Intervalo.
Hora do xixizinho (ou da fuga...)
Desci das bancadas inimigas em direcção ao suposto balneário feminino, transformado agora num verdadeiro urinol.
As inimigas estavam lá todas.
Olharam-me desconfiadas.
Franziram sobrolhos e até arregaçaram os vestidos...
mas neste momento já tinha gentilmente deixado escorregar para o chão o meu cachecol de adepta traidora.
Em momentos de guerra temos de ser mais espertos para sobreviver, já diziam os grandes líderes (ou não...)
Assim que as trincheiras se abriram fugi feito louca ainda com as mãos molhadas.
Ufa... foi por pouco...
Quando achei que já estava a salvo... ouvi:


"Psssst... Óh menina!"


Petrefiquei!
Era agora.
Tinham-me descoberto no covil dos lobos.
Já me imaginava apedrejada pelas adeptas furiosas.
Solhas, carapaus e alforrecas.
Valia tudo!
Mas não...
Olhei para trás e deparei-me com um senhor caricatamente vestido.
Bem... eu explico... ou melhor, descrevo pormenorizadamente:
Sujeito alto e espadaúdo, apresentava na altura do acontecimento um fato clássico de cor azul-cueca, com a baínha erradamente subida em + 10 cms; camisa bem engomada com gola sobreposta sobre o blaser, de cor indefinida, mas fugindo para o bourdeaux; bigode à "Errol Flynn", penteado anos 70 com gel a condizer; cigarrilha fumegante; anel proeminente no mindinho a acompanhar com a longa unhaca da jogatana, meias brancas (mas sem raquetes) e bafo de brandi-acervejado-com-tremoços. 
Pronto.


"Óh menina, tome este lencinho de seda para secar essas mãozinhas de princesa. Está limpinho."


Ok... pode haver algazarra, sardinhas e choco frito, mas há ou não há cavalheiros, hum?




baseado em factos reais - 2008

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

" Vai um cházinho de Limão? "

O friozinho dos últimos dias tem feito umas quantas vítimas do espirro.
Atchiiiiiimmmm!!!
Eu não fui excepção.
Ora é o pingo no nariz, ora é a febre que me traz bizarros sonhos ao estilo de "Hitchcock".
Enfim...
Da cama pró sofá, do sofá prá cama, isto é uma monotonia.
Mas o que mais me custa são as conversas com o espelho...
Pareço uma pedinte.
Pálida-olherenta-de-nariz-pingão, pijama cor-de-rosa e peúgas com morangos... digamos que não abona nada a favor da minha beleza.
Nem mesmo a Gisele Bünchen fica maravilhosa nestes preparos.
Não.
Mas pior que esta onda de bactérias loucas e irrequietas, foi a epidemia de "gripe-apneumonizada" (atenção, esta palavra não existe, inventei neste preciso momento e achei maravilhosa) que me bateu à porta há uns anos.
Lembro-me da sensação de que tudo à minha volta se envolvia num amarelo opaco e que todas as pessoas falavam muito ao longe e numa espécie de eco.
Balbuciavam algo que não conseguia perceber.
Achava até muito estranho o facto das pessoas que passavam por mim andarem muito devagar e meio que a flutuar.
Quanto mais suores frios eu tinha, mais nublado tudo me parecia.
As alucinações não estavam a ajudar a melhorar a minha imagem no trabalho e resolvi dizer aos meus botões que me levassem a casa.
...
No metro parecia tudo mais calmo.
Havia silêncio.
Os meus olhos pareciam querer fechar e tudo parecia mover-se em câmera lenta.
Neste instante senti-me flutuar e vi-me sentada de pernas para o ar no reflexo do vidro (óh meu Deus...)
Tudo estava alienado no meu mundo febril.
Mas lembro-me de vêr um senhor muito simpático que, entretanto se sentou à minha frente a sorrir.
Reparei que tinha uma falha num dente da frente, ou não tinha dente... whatever...
Também não parecia cheirar muito bem, mas podia ser do meu nariz entupido.
Achei-o bastante simpático porque sorria para mim.
Que querido... sorria e dizia "Força!"
Pensei: "Que simpático este senhor, percebeu que estou um pouco adoentada e está complacente".
E o sorriso continuou.
E eu sorri de volta (acho eu).
E ele: "Força! Aguenta firme!"
E eu, meio azambuada, tentei retribuir um sorriso amarelado.
E ele continuou: "Êpá, aguenta firme!"
E eu... está bem... pensei: "Que senhor tão preocupado, deve ser padre de uma paróquia aqui perto."
Entre sorrisos bacilentos e palavras de conforto, o metro pára numa estação e este senhor simpático levantou-se.
Agarrou-me no braço e reparei que tinha a roupa meio esfarrapada e tinha um ar chupadinho (coitadinho, deve ser pobrezinho... se calhar é um daqueles monges que renegam os bens materiais e só rezam, pensei eu).
Então, aproximou-se do meu ouvido e disse:
"Força aí amiga! Aguenta firme a ressaca. Se eu tivesse aqui umas gramas até te fazia um caldinho, mas tou liso pá, vou sacar uns trocos agora à velha. Mas olha, se não te aguentares pá, aparece ali no "Caixodré" que a malta orienta-te qualquer coisinha!"

E o metro apitou, fechou as portas e eu continuei na minha febril alienação.

(baseado em factos reais 2001)