O friozinho dos últimos dias tem feito umas quantas vítimas do espirro.
Atchiiiiiimmmm!!!
Eu não fui excepção.
Ora é o pingo no nariz, ora é a febre que me traz bizarros sonhos ao estilo de "Hitchcock".
Enfim...
Da cama pró sofá, do sofá prá cama, isto é uma monotonia.
Mas o que mais me custa são as conversas com o espelho...
Pareço uma pedinte.
Pálida-olherenta-de-nariz-pingão, pijama cor-de-rosa e peúgas com morangos... digamos que não abona nada a favor da minha beleza.
Nem mesmo a Gisele Bünchen fica maravilhosa nestes preparos.
Não.
Mas pior que esta onda de bactérias loucas e irrequietas, foi a epidemia de "gripe-apneumonizada" (atenção, esta palavra não existe, inventei neste preciso momento e achei maravilhosa) que me bateu à porta há uns anos.
Lembro-me da sensação de que tudo à minha volta se envolvia num amarelo opaco e que todas as pessoas falavam muito ao longe e numa espécie de eco.
Balbuciavam algo que não conseguia perceber.
Achava até muito estranho o facto das pessoas que passavam por mim andarem muito devagar e meio que a flutuar.
Quanto mais suores frios eu tinha, mais nublado tudo me parecia.
As alucinações não estavam a ajudar a melhorar a minha imagem no trabalho e resolvi dizer aos meus botões que me levassem a casa.
...
No metro parecia tudo mais calmo.
Havia silêncio.
Os meus olhos pareciam querer fechar e tudo parecia mover-se em câmera lenta.
Neste instante senti-me flutuar e vi-me sentada de pernas para o ar no reflexo do vidro (óh meu Deus...)
Tudo estava alienado no meu mundo febril.
Mas lembro-me de vêr um senhor muito simpático que, entretanto se sentou à minha frente a sorrir.
Reparei que tinha uma falha num dente da frente, ou não tinha dente... whatever...
Também não parecia cheirar muito bem, mas podia ser do meu nariz entupido.
Achei-o bastante simpático porque sorria para mim.
Que querido... sorria e dizia "Força!"
Pensei: "Que simpático este senhor, percebeu que estou um pouco adoentada e está complacente".
E o sorriso continuou.
E eu sorri de volta (acho eu).
E ele: "Força! Aguenta firme!"
E eu, meio azambuada, tentei retribuir um sorriso amarelado.
E ele continuou: "Êpá, aguenta firme!"
E eu... está bem... pensei: "Que senhor tão preocupado, deve ser padre de uma paróquia aqui perto."
Entre sorrisos bacilentos e palavras de conforto, o metro pára numa estação e este senhor simpático levantou-se.
Agarrou-me no braço e reparei que tinha a roupa meio esfarrapada e tinha um ar chupadinho (coitadinho, deve ser pobrezinho... se calhar é um daqueles monges que renegam os bens materiais e só rezam, pensei eu).
Então, aproximou-se do meu ouvido e disse:
"Força aí amiga! Aguenta firme a ressaca. Se eu tivesse aqui umas gramas até te fazia um caldinho, mas tou liso pá, vou sacar uns trocos agora à velha. Mas olha, se não te aguentares pá, aparece ali no "Caixodré" que a malta orienta-te qualquer coisinha!"
E o metro apitou, fechou as portas e eu continuei na minha febril alienação.
(baseado em factos reais 2001)
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